Um breve resumo do Shabbat do primeiro dia
A principal discussão a respeito da mudança do dia, de um Shabbat do sétimo dia para um Shabbat do primeiro dia, é que a moralidade do mandamento não depende do dia particular da semana que Deus nos convoca para o adorar (Deus pode mudar o dia em que adoramos, se Ele assim quiser—como Ele fez). A moralidade imutável do Quarto Mandamento é antes firmemente fixado num tempo designado e escolhido por Deus para Seu culto (um só dia de sete— “Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o shabbat do SENHOR teu Deus” Êxodo 20:9-10).
Por exemplo, em Deuteronômio 5:15 (que pertence ao Quarto Mandamento), entendemos que essas palavras se relacionam especificamente à Antiga Aliança (ao invés da Nova Aliança):
E lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o SENHOR teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; portanto o SENHOR teu Deus te ordenou que guardasses o dia do shabbat.
Deuteronômio 5:15, no texto hebraico, começa com a palavra “e” (waw), onde esta é usada para conectar o que acabou de ser afirmado no versículo anterior pertencente ao Shabbat. Ademais, o Senhor demonstra que Deuteronômio 5:15 está antes se referindo questões relacionadas ao Shabbat (e, portanto, uma base para Israel para a guarda do Shabbat até mesmo com relação aos servos), pois o versículo conclui com “por isso o SENHOR teu Deus te ordenou que guardasses o dia de shabbat”. Aqui, o Senhor está dando uma razão circunstancial específica que pertencia a Israel na Antiga Aliança para observar o Shabbat do sétimo dia dado a ela (porém, embora aquela {razão circunstancial} é incluída no Quarto Mandamento, isso claramente não se relaciona diretamente com aqueles {cristãos} da Nova Aliança). Deste modo, vemos que existem questões de uma natureza circunstancial (ao invés de uma natureza moral fixa) as quais se relacionam apenas para Israel, e ainda são incluídas no Quarto Mandamento. É igualmente a mesma coisa com relação à natureza circunstancial do Shabbat do sétimo dia da Antiga Aliança—a moralidade fixa do Quarto Mandamento é mantida mesmo que a circunstância de um Shabbat de sétimo dia é alterada na Nova Aliança.
Semelhantemente, as palavras encontradas em Deuteronômio 5:16 (as quais pertencem ao Quinto Mandamento) se relacionam especificamente à Antiga Aliança (ao invés da Nova Aliança):
para que te vá bem NA TERRA [i.e. A TERRA PROMETIDA--GLP] QUE TE DÁ O SENHOR TEU DEUS.[1]
Estas palavras dentro do Quinto Mandamento são alteradas e expandidas na Nova Aliança por parte do Espírito Santo a fim de incluir “A TERRA” em Efésios 6:3, (que de nenhuma forma alterou a moralidade do Quinto Mandamento):
para que te vá bem, e vivas muito tempo SOBRE A TERRA.[2]
Novamente, vemos claramente declarada a moralidade fixa do Quinto Mandamento, e ainda existe uma circunstância alterável associada com o Quinto Mandamento, que se relaciona apenas com Israel “na terra” da promessa, a qual é ampliada ainda mais na Nova Aliança para incluir “a terra”,[3] isto é, do lado de fora da terra de Israel em toda a terra.[4]
Nesses dois casos (Deuteronômio 5:15 e Deuteronômio 5:16), encontramos algumas partes dos Dez Mandamentos de Deus que se relacionam à Antiga Aliança (e, portanto, não fazem parte da moralidade dos mandamentos e que não se aplicam aos gentios na Nova Aliança). Assim, as circunstâncias que envolvem os Dez Mandamentos podem ser alteradas sem alterar a moralidade do próprio mandamento. Portanto, o Quarto Mandamento, no que se refere a um Shabbat do sétimo dia, foi mudado na Nova Aliança para um Shabbat do primeiro dia. Tal mudança não altera a moralidade do Quarto Mandamento porque o dia específico, em que o Shabbat é observado, é circunstancialmente estabelecido por Deus (como um Shabbat de sétimo dia na Antiga Aliança, e como um Shabbat de primeiro dia na Nova Aliança), ao invés de ser perpétua e imutavelmente moral.
Nós necessariamente inferimos essa mudança para um Shabbat do primeiro dia pelas seguintes razões. Uma dedução boa e necessária extraída da Escritura é equivalente a um preceito da Escritura (e.g. a doutrina da trindade é argumentada a partir de dedução/inferência, e mesmo assim nenhum de nós jamais negaríamos a trindade simplesmente porque ela não é especificamente declarada como um preceito a ser crido na Escritura). Ademais, Cristo também argumentou a partir de tais inferências boas e necessárias em Seus debates com os líderes judaicos (Mateus 21:31-32; João 10:34-36). O escritor inspirado aos hebreus deduz que, sendo que os anjos de Deus são ordenados a adorarem o Filho de Deus (Hebreus 1:6), Jesus Cristo é Deus. Ao condenar relacionamentos incestuosos no Antigo Testamento (Levítico 18), nós não devemos concluir que, já que Deus proíbe aos “homens” estes relacionamentos, as mulheres não são também proibidas mediante boa e necessária inferência de os mesmos relacionamentos. Embora as mulheres nunca são especificamente ordenadas para participarem da Ceia do Senhor (nem existe uma menção específica de mulheres participando da Ceia do Senhor), nós, no entanto, mediante boa e necessária inferência, concluímos que, já que mulheres foram batizadas no Novo Testamento (Atos 16:15), que mulheres, de forma semelhante, têm também o direito de participar da Ceia do Senhor. Isso é o mesmo raciocínio bíblico e dedutivo que é aplicado para a mudança de um Shabbat do sétimo dia para um Shabbat do primeiro dia na Nova Aliança (entretanto, nesse caso, existem exemplos aprovados pelos apóstolos de culto de Shabbat do primeiro dia).
Estes são os fatos, no Novo Testamento, com base nos quais a mudança é baseada de um Shabbat do sétimo dia para um Shabbat do primeiro dia.
Sendo que Jesus Cristo é o Senhor do Shabbat, Ele tem autoridade para alterar o dia circunstancial e alterável, em que o Shabbat é observado, de um Shabbat do sétimo dia para um Shabbat do primeiro dia, sem alterar a moralidade da observação do Shabbat (Marcos 2:28).
O dia da ressurreição de Cristo foi o primeiro dia da semana (o dia da nova criação no ato poderosamente criativo de ressuscitar a Cristo dentre os mortos, João 20:1). Cristo estava morto no túmulo no sétimo dia da semana.
Cristo aparece aos Seus discípulos, como sendo o Senhor ressurreto, no primeiro dia da semana (João 20:19), não no sétimo dia da semana.
A aparição de Cristo na semana seguinte para mostrar a si próprio, como sendo o Senhor ressurreto, a Tomé e aos outros apóstolos, os quais estavam novamente reunidos, ocorreu no primeiro dia da semana (João 20:19). Ele não apareceu a eles no sétimo dia da semana (o Espírito Santo especificamente observa que ocorreu oito dias depois).
O derramamento do Espírito Santo ocorreu no oitavo dia, ou primeiro dia, da semana (Atos 2:1 comparado com Levítico 23:15). Este foi o grande dia da bênção da Nova Aliança, e o primeiro sermão registrado foi pregado por parte dos apóstolos depois da ressurreição de Cristo com aproximadamente 3.000 sendo acrescentados à igreja como resultado.
O culto da igreja apostólica ocorreu no primeiro dia da semana, como demonstrado por Paulo pulando o sétimo dia da semana pelo culto em Trôade, e, em vez disso, se reunindo com os cristãos em Trôade no primeiro dia da semana. Paulo estava presente em Trôade no sétimo dia da semana, entretanto a Igreja de Trôade se reunia no primeiro dia da semana (Atos 20:5-12). Sendo que Paulo estava em Trôade por uma semana inteira, de sete dias, antes do primeiro dia da semana em que ele conduziu o culto com os cristão em Trôade, por que ele não se reuniu com a Igreja de Trôade no sétimo dia para o culto?
As ofertas que deveriam ser especificamente dadas, por parte da Igreja de Corinto, foram ordenadas para serem dadas no primeiro dia da semana (1 Coríntios 16:2). Por que não no sétimo dia da semana, caso a Igreja de Corinto tivesse se reunido para cultuar no sétimo dia?
O uso de “dia do Senhor”, em Apocalipse 1:10, aponta para um Shabbat do primeiro dia, ao invés de um Shabbat do sétimo dia, pois o adjetivo grego usado para “Senhor” [kuriakos] em “o dia do Senhor” é usado apenas em um só outro lugar no Novo Testamento, e este lugar é 1 Coríntios 11:20 a fim de se referir a “a ceia do Senhor”. Assim como “a ceia do Senhor” é uma ceia instituída por parte de Jesus Cristo para celebrar a Sua morte por Seu povo, assim também “o dia do Senhor” é um dia instituído por parte de Jesus Cristo para celebrar a Sua ressurreição por Seu povo.
A única razão para a menção do Shabbat do sétimo dia no Livro dos Atos (depois da ressurreição de Cristo e da instituição do Shabbat do primeiro dia) é porque o evangelho deveria ser levado primeiro ao judeu (Atos 13:46; Romanos 1:16), e o dia e lugar em que os judeus congregavam para o culto foi no sétimo dia em suas sinagogas. Noutras palavras, a fim de alcançar os judeus, os apóstolos se reuniram com os judeus para proclamarem o evangelho de Jesus Cristo (1 Coríntios 9:20). Entretanto, tal comparecimento por parte dos apóstolos no Shabbat do sétimo dia dos judeus em suas sinagogas não era moral por natureza, mas expediente e conveniente (isto é, quando e como os judeus deveriam ser ensinados o evangelho). De fato, o apóstolo Paulo declara que o Shabbat de sétimo dia da Antiga Aliança (juntamente com outros dias santos cerimoniais da Antiga Aliança) “são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17). O Shabbat de sétimo dia da Antiga Aliança é, portanto, tanto uma “sombra” das bênçãos do evangelho em Cristo quanto são os sacrifícios do Antigo Testamento (Hebreus 10:1). As “sombras” do Antigo Testamento não eram morais por natureza, e, portanto, têm sido pregadas na cruz de Cristo (Colossenses 2:14) como cerimônias que não mais vinculam os cristãos sob a Nova Aliança (Efésios 2:15). As referências no Novo Testamento quanto a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, ao Dia de Pentecostes no oitavo ou primeiro dia da semana, ao culto cristão no primeiro dia da semana, e “o Dia do Senhor” em celebração da ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, estes juntos estabelecem (mediante boa e necessária inferência e por exemplo aprovado) o dia em que Cristo designou à Sua Igreja para se reunir para o culto na era da Nova Aliança—o primeiro dia da semana!
Isso também está confirmado pelo fato de que o Dia do Senhor era conhecido muito cedo na história da igreja como sendo o primeiro dia da semana.
O seguinte resumo claramente demonstra que não foi Constantino nem o Concílio de Niceia que foram os primeiros a mudarem o Shabbat judaico (no sétimo dia da semana) para o Dia do Senhor (no primeiro dia ou oitavo dia da semana), e que não foi a Igreja Católica Romana que foi responsável pela alteração do Shabbat do sétimo dia para o Shabbat do primeiro dia (chamado de o “Dia do Senhor”) dentro da prática da Igreja cristã. Foi, na verdade, a prática dos próprios apóstolos (Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2; Apocalipse 1:10) que seguiram o exemplo de Cristo, o qual foi ressurreto dentre os mortos no primeiro dia da semana (Marcos 16:2; Lucas 24:1; João 20:1) e quem apareceu aos Seus discípulos no primeiro dia da semana (João 20:19) e novamente oitos dias depois no primeiro dia da semana (João 20:26). Isso era igualmente a prática universal de cristãos primitivos antes de Constantino, do Concílio de Niceia, ou de um pronunciamento por parte da Igreja de Roma.
1. INÁCIO (30-107 d.C.)
Aqueles que vieram a ter posse de nova esperança, não mais observando o Shabbat, mas vivendo na observância do DIA DO SENHOR, em que também a nossa vida surgiu novamente, por meio d’Ele e por Sua morte (Epístola aos Magnésios, Cap. IX, ênfase acrescentada).
Inácio foi designado para ser o bispo de Antioquia por volta de 69 d.C. Essa epístola foi provavelmente escrita 98-107 d.C. Foi notado que ele foi um discípulo do apóstolo João. Inácio descreve a mudança da observância do Shabbat judaico para a observância do Dia cristão do Senhor.
2. EPÍSTOLA DE BARNABÉ (aproximadamente 100 d.C.)
Portanto, também, mantemos O OITAVO DIA com júbilo, o dia também em que Jesus ressuscitou dentre os mortos (Epístola de Barnabé, cap. XV, ênfase adicionada).
A Epístola de Barnabé (embora não canônica), no entanto, estabelece a prática dos primeiros cristãos em relação ao culto do Dia do Senhor, ou, como também é chamado, culto que ocorre no “oitavo dia”.
3. JUSTINO MÁRTIR (110-165 d.C.)
NO DIA CHAMADO DOMINGO há uma assembleia de todos os que vivem ou em cidades ou nos distritos rurais, e as memórias dos apóstolos [i.e. os escritos inspirados dos apóstolos encontrados no Novo Testamento--GLP] e os escritos dos profetas são lidos .... PORÉM O DOMINGO É O DIA EM QUE TODOS NÓS TEMOS A NOSSA ASSEMBLEIA COMUM, pois é o primeiro dia em que Deus dissipou as trevas e o estado original das coisas e formou o mundo, e porque Jesus, o nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos nesse dia (Apologia de Justino, Cap. LXCII, ênfases acrescentadas).
Justino se refere ao primeiro dia da semana, em que os cristãos se reuniam para adorar, como “domingo”.
4. TERTULIANO (145-220 d.C.)
O Espírito Santo repreende os judeus com seus dias-santos. “Teus Shabbats, e luas novas, e cerimônias”, diz Ele, “Minha alma odeia” {cf. Is. 1:14}. Para nós, AOS QUAIS OS SHABBATS SÃO ESTRANHOS, e as luas novas e festivais ANTERIORMENTE amado por Deus.... para os pagãos, cada dia festivo ocorre apenas uma vez anualmente: VÓS TENDES UM DIA FESTIVO A CADA OITAVO DIA (De Idolatria, Cap. XIV, ênfase acrescentada).
Tertuliano fala dos Shabbats judaicos observados no sétimo dia como sendo estranhos aos cristãos no norte da África. Ao contrário, Tertuliano afirma que esses cristãos celebram um dia a cada “oitavo dia”, o que é a mesma coisa de dizer que eles adoravam no primeiro dia da semana.
5. TERTULIANO (145-220 d.C.)
Segue-se, portanto, que, na medida em que a abolição da circuncisão carnal e da antiga lei for demonstrada como tendo sido consumada em seus tempo sespecíficos, ASSIM TAMBÉM A OBSERVÂNCIA DO SHABBAT É DEMONSTRADA COMO TENDO SIDO TEMPORÁRIA (Contra os judeus, Cap. IV, ênfases acrescentadas).
Tertuliano claramente declara que o Shabbat judaico (ou Shabbat do sétimo dia) passou, assim como a circuncisão passou na Nova Aliança.
6. O Ensino dos Doze Apóstolos, ou O Didaquê (120 d.C.)
1. MAS EM TODO DIA DO SENHOR VOCÊS REÚNAM E PARTAM O PÃO, e deem graças depois de haver confessado suas transgressões, para que seja puro o sacrifício de vocês. 2. Mas não deixe que ninguém que esteja em desacordo com o seu próximo venha juntar-se convosco, até que se reconcilie, para que não seja profanado o sacrifício de vocês.... 3. Porque é isto que foi falado por nosso Senhor: Em todo lugar e tempo, ofereçam a mim um sacrifício puro; pois eu sou um grande Rei, diz o Senhor, e meu nome é maravilhoso entre as nações (O Ensino dos Doze Apóstolos, cap. XIV, ênfase acrescentada).
O Ensino dos Doze Apóstolos (ou O Didaquê, como também é conhecido) não é canônico, mas ainda mostra a prática de cristãos no início do século segundo quanto a qual dia da semana eles se reuniam para adorar. Esse dia é identificado como o Dia do Senhor (que é associado com o dia da ressurreição de Cristo noutros escritos primitivos ou identificado com o primeiro dia da semana).
7. As Constituições dos Santos Apóstolos (200-300 d.C.)
XXX. NO DIA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR, QUE É O DIA DO SENHOR, REÚNAM-SE JUNTOS, SEM FALTA, dando graças a Deus, e louvando-O por aquelas misericórdias que Deus concedeu sobre vocês através de Cristo, e libertou-os da ignorância, erro, e escravidão, para que o sacrifício de vocês não tenha mancha, e seja aceitável a Deus, quem disse a respeito de Sua Igreja universal: “Em todo lugar será oferecido a mim incenso e um sacrifício puro; porque eu sou um grande Rei, diz o Senhor Todo-Poderoso, e o meu nome será grande entre as nações” {cf. Ml. 1:11} (Constituições dos Santos Apóstolos, Livro VII, Seção I, ênfase acrescentada).
Novamente, este documento primitivo não é canônico, mas, no entanto, é útil deixar claro que os cristãos regularmente adoravam juntos no Dia do Senhor (ou no dia da ressurreição de Cristo). Este documento (assim como todos os outros citados neste breve resumo) reflete a prática dos cristãos antes do Concílio de Niceia (325 d.C.) ou antes de o Imperador Constantino proibir o trabalho aos domingos (321 d.C.).
Tradutor: Nathan Cazé.
Observações:
Todos os acréscimos do autor estão inseridos entre colchetes juntamente com a sigla de seu nome, isto é, GLP.
Todos os acréscimos do tradutor estão inseridos entre chaves “{}”.
Notas:
[1] N.T.: “terra” neste versículo foi traduzida do substantivo “land”.
[2] N.T.: “terra” neste versículo foi traduzida do substantivo “earth”, o qual denota todo o planeta terra.
[3] N.T.: “terra” no sentido de “land”.
[4] N.T.: “terra” no sentido de “earth”.
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